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domingo, 23 de dezembro de 2012

PORTA- RETRATO

 Nunca soube se seria forte o bastante para deixar meus pés tocarem o chão. Olhando retratos e revirando o baú de antiguidades vividas, percebi que quase nada havia mudado em relação a quem eu queria ser, continuo a mesma pessoa, mas com uma personalidade um pouco mais forte. Observando o meu retrato que agora está ao meu lado, vejo que nada está como aquele sorriso na foto. Agora o sorriso mudou, olhar mudou, eu mudei, o tempo mudou, o tempo voa.
   Ninguém, dá a miníma para quem eu sou hoje, eles não se importam com o que eu tenho para SER, eles não querem me ver, não querem acreditar em mim, não querem.... Todos os retratos antigos estão espalhados pela sala, pelos quartos, até na geladeira, mas são todos invisíveis, ninguém dá a miníma para eles, ninguém dá a miníma para passado. Não importa mais os sorrisos, as lembranças, as festas, os vídeos antigos. Não importa para ninguém mais o que já viveu ou quem foi um dia. Reparar nesses detalhes é muito complicado, quando tudo e todos a sua volta já não dão mais importância.
  Não posso mais andar nas nuvens, agora caiu a ficha, não posso me esconder atrás da porta, não posso correr para debaixo da cama, não posso... Por mais que eu tente, não consigo estar mais nas nuvens, agora os meus tocam o chão, posso sentir a dificuldade de estar em pé sem nenhum apoio ou coisa parecida.
 Eu chorei anteontem no carro do meu pai, indo de volta pra casa. Eu chorei, lembrando de tudo, de como eu havia agido em meio as circunstâncias. Eu chorei e só a minha irmã viu. Ninguém mais sabe, ela já não lembra mais. Só eu lembro, só eu sei. Recebi um convite, nele estava escrito: Você deve ir embora. Você deve mudar. Não há razões para ficar, há razões para ir, para tentar.
 Não quero parar de olhar os retratos. Ali estão eles, ali eramos eles, ali deixamos eles. Ali eu parei de voar e cair, mas cai com a ajuda de um paraquedas, consegui aterrizar. Olho para cima e as nuvens se foram, olhei para baixo e vi meus pés e o único apoio que eles tinham era o chão. A única maneira era esquecer os retratos, era tentar se equilibrar, dá um passo de cada vez. Era preciso esquecer aqueles que estavam no porta-retrato.


 CAROL CHADES

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